sábado, 23 de agosto de 2014

Uma história inacabada ou uma versão do que poderia ter sido mas nunca foi...

Os dois tinham-se cruzado uns anos antes...
Numa apresentação de um estudo importante. Ele, cinzentão, armou-se em engraçado, manipulando a reunião. Ela, sentada a meio do auditório, cansada, irritou-se. Soube mais tarde, que ele ocupava um bom cargo, com colaborações em diversas áreas.
 “ Que parvo!” – pensou.
Nunca mais se viram.

Encontraram-se um dia por acaso. Ela não devia lá estar. Mas estava. Tinham vestido um casaco da mesma cor. Ela sorriu. Apaixonou-se. Sem raízes. Ele não sabia. Pensava nela.

Mas não tinha tempo. Demasiada gente, demasiados compromissos. Na primeira vez, que iam tendo uma oportunidade não se viram, mas durante horas não se largaram. Era de madrugada, quando se despediram. Sem se olharem, sem se tocarem. Estavam cheios. Daquela mistura de adrenalina com tesão. Do poder do enamoramento. Da descoberta.

Quando se encontraram sorriram. Não foi preciso muito mais. Ainda não era o momento.
Foi mais tarde. Acharam-se já a noite ia longa. Ela massajou-lhe os pés. Gosta de pés. Mesmo dos feios. Têm sempre alguma particularidade feliz. Beijaram-se com a fome da longa espera.  Entrelaçaram-se, prolongaram o momento. Adiaram.
Foi melhor depois…

Encontraram-se a meio caminho entre o corpo e a alma.

Encaixaram-se. Penetraram-se. Um ao outro. Os dois, falando um com o outro, no lado do arco-íris. A vida não é perfeita. Mas tem momentos perfeitos. Mesmo em dias de chuva. Eles juntos são o sol. Irradiam. Aquecem-se mutuamente. São melhores. Não precisam um do outro.

Mas não há sonhos conjuntos, nem a possibilidade deles existirem. Ele matou-os, na vez em que falaram profundamente, sobre coisas realmente importantes. “ Chegaste tarde demais!” - disse-lhe. O que sobra? Pouco, muito pouco! – pensou ela, que não gosta de gente acomodada, convencional e convencionada.     

Vestiu a camisa apressadamente. Estava com frio e cansado. Satisfeito. Sorriu, quando se sentiu confrontado, com o olhar fixo de Inês. Já vestido, sentou-se ao lado dela para fumar o cigarro, com as conversas da despedida...

Às vezes querem sonhar e viajam juntos.  Rapidamente. A realidade não permite fantasias duradouras.                            
Nessa noite, tinham ido a um concerto, nada do género dele mas que calhou ser a música que ouviu quando chegou ao carro, depois da primeira vez que lhe sentiu o calor.
 Num dia quente e chuvoso, ele ganhou uma merda qualquer que não queria, mas que sentiu que tinha de querer. Tinha estado com ela.

A primeira vez que se sentiram.
Em que se vieram ao mesmo tempo. Que se riram depois.
Algo nele mudou com ela, a vontade certamente! A disponibilidade menor mas o desejo intenso.
 Porque deve haver um amanhã. Mesmo quando a relação entre eles, é espaçada e pouco preenchida, mesmo havendo muitos amanhãs que passaram. Mas o futuro que eles não têm, torna o presente mais intenso.

Ele estava parvo, chato. A falar de coisas desinteressantes. Recusou a mão dela, mesmo quando se apagaram as luzes no espetáculo, ela ficou sentida.  Quando subiram ela deixou-se comer por trás. Com pouca entrega. O suficiente para que fosse bom. Ela não gosta de desperdiçar momentos.
Despediu-se, e foi embora.
Mais tarde desejou-lhe boa noite e disse que a adorava. Longe, escondido atrás de um ecrã.  Ela desabituada de acreditar em palavras e em homens, sorriu. Especialmente da inocência dele. 
Eram para estar juntos, mas mesmo depois de uma semana, em que nem se cruzaram, não estiveram. Não faz mal, as coisas não mudam. Ou mudam tudo!

 Porque haverá sempre um confronto entre o que é, e o que poderia ser. Porque há sempre papéis que ela não consegue representar. Porque ele não quer mudar o seu conforto. Porque ela não é suficientemente importante. Nunca foi, nunca será.

Porque haverá sempre outras. Houve antes, sem grande peso na consciência, mas com grande importância no ego. O ego dele é imenso. Acredita que pode dar tudo a toda a gente, satisfazendo os outros. Esquece-se dele próprio. Ou tem medo do confronto entre o que tem, e o que desejava ter. Tem medo de querer mudar. De lutar.

Ela é especialmente inconformada. Gosta de sentir a alma livre mas o coração com raízes. Mesmo quando lhe quebram o coração. Ela gosta de ver Deus nas pessoas. Sabendo que num lado mau existe um bom. Esse é que é importante. Ver sempre o lado bom das pessoas.  Sabe que potencializar qualidades, ameniza defeitos. Estes são os mais difíceis de mudar.

Ele fazia anos. Tiraram a manhã. Chegou atrasado. Ela fez o bolo. Ele não comeu. Ainda bem! Estava uma merda. Saíram. Ele sabia para onde iam ela tinha-lhe feito umas palavras cruzadas com pistas para esse dia. Dizem que a tesão é especialmente mental. Alimenta-se de pessoas inteligentes. Sobretudo para ele que se aborrece com pessoas. Sentia-se uma criança quando adivinhava uma pista. Ela estava feliz. Mandara-lhe uma música, escolhida entre muitas. A música perfeita. Que o fez rir. Não largava o telemóvel. Mesmo quando tinham o jacuzzi, o champanhe e as uvas. Quando se tinham um ao outro. 

Quentes, sequiosos, sozinhos e anónimos.

Viram o corpo um do outro, trocaram um abraço, nus apenas com cuecas de papel. Foram interrompidos. As tailandesas. Que lhes tocaram os pés, que lhes tocaram no corpo todo. Em silêncio. Apenas com o vibrar do telemóvel. Que não parou. Mas ali o tempo sim. Há tempos que são deles. São cúmplices. E gostam!

Naquela hora de almoço que eles trocaram um pelo outro.  Que se encontraram na cama. Que se cheiraram e sentiram. Que se partilharam. Sugaram-se um ao outro. Tiveram muito prazer. Têm juntos. Aproveitam os momentos. Não perdem tempo. Matam a fome um do outro.
Às vezes apenas se encontram para se olharem nos olhos. Dizer olá. Podiam-se encontrar mais vezes. Acontecem coisas boas. Deviam ver-se mais. Mas pensam um no outro.

Tinham ido ao cinema, ver um daqueles filmes que obrigam a pensar. Beijaram-se. Ela faria o chá. Voltaram-se a beijar. Naquele momento, não conseguiam fazer mais nada. Tentava tirar as calças dela enquanto baixava as dele. Tocou-lhe, enfiou-lhe o pau teso, na rata molhada. Ele em pé, ela sentada em cima da mesa. Pararam. Voltou a penetrá-la. Gosta de a ver assim. Gosta de o ver a entrar. Percorrendo-a. Respirando-a. Precisava dela. Era dele!

Beberam o chá. Ela cheirou-o. Adora os sinais nas costas, os pelos espalhados e o tufozinho na zona lombar. O seu cheiro que lhe entra no nariz e lhe dá prazer. Gosta de beijá-lo suavemente apenas tocando os lábios na sua pele. Abraça-o. Continua a beijá-lo. Percorre-lhe a língua nos mamilos. Beija-o, ladeando o seu membro. Ele quer, ela também. Mete-lhe a cabeça na boca, acariciando-o, lambendo, gosta de o fazer devagarinho. Aumenta a cadência, e varia a velocidade. Senta-se nele. Vem-se nele. Continua sentada. É bom! Manda-a deitar. Ela obedece. Entra nela. Entra e sai furiosamente. Apenas porque é bom. Ela geme. Ele também. O tempo parou. Ela só sente o corpo dele e o dela. E prazer. Porque fazer amor muda tudo.  

Aninharam-se. Cruzaram os pés e dormiram. Sonharam os dois, com o corpo um do outro. Tinham o corpo um do outro. Ela acordou, ele dormia voltado de costas. Beijou-lhe as orelhas, encostou o seu corpo nu às costas dele, esticando-se até agarrar-lhe o pénis. Murcho, adormecido. Masturbou-o. Sentiu a crescer e a acordar. Comeu-a de lado. Adormeceram. De manhã, preparou-lhe o pequeno-almoço, e comeu-a. Os dias começam melhores. Os dias são melhores.

A vida tem um lado sério mas pode ser divertida. Partilham “estórias”, riem-se, sobretudo da estupidez humana. Convivem bem com as diferenças. Desprezam as mesmas coisas. Mas ele é educado. Nem sempre diz o que pensa. Nem sempre pensa no que diz. Contrariamente a ela, que diz o que pensa e o que não pensa. Mas é comportada. Sabe mais ser do que estar. É inteligente. Mas insegura. Porque é diferente.

Serão um livro inacabado.

Podiam escrever muitas páginas, mas fecharão o capítulo.

“ Chegaste tarde demais”…


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Bruxas??!

 Dia de todos os Santos e o meu gato desaparece misteriosamente??!! {Primeiro uma tartaruga, agora um gato??} Não há bruxas o car****