terça-feira, 24 de setembro de 2019

Zanzibar, desde o regresso...

Deveria escrever. Assim como tomar decisões, que não estou preparada. Cheguei há duas semanas. Continuo no fuso horário de África, com um ritmo pole pole. Falo com Paris e Zanzibar, na mesma língua, todos os dias.
Foram muito poucas as pessoas com quem falei, desde que voltei. Só revi uma amiga. E das poucas que senti verdadeiramente a falta. Talvez por saber que ela precisava de mim, mais do que qualquer outra.
Não estou habituada às luzes e aos aviões nos céus. Sinto-me desfasada. Do tempo, no espaço.
Voltei para casa, o meu suposto lugar seguro do mundo, e todas as noites sonho em partir. Não é aqui que quero estar. África tem o poder de se entranhar, e de não nos deixar esquecer, de onde são as nossas raízes.
África, sempre foi e será um sonho.  O de ir e o de regressar. Feito sempre a dois tempos. Ir e voltar.

Lá fora, vizinhos discutem, e um adolescente grita. Não estou habituada a barulho, excepto de músicas típicas e corvos desaustinados.
Faz-me lembrar o meu pequeno Edward. Dois anos, de criança de sorriso aberto e abraço estendido. Criança de esperança, numa família Masai, ainda tribal. 
Edward, a arder de febre, de manhã à noite, com uma amigdalite. Com a boca carregada de aftas. Às vezes, temos de ultrapassar o correto, quando todas as outras situações de emergência nos falham. Especialmente a comunicação.
Sinto saudades da minha tribo Masai. Mesmo carregando em mim, as suas pulseiras nos tornozelos.
White Masai - tantas vezes me chamaram.
A futura presidente de Zanzibar, como me gozava a minha companheira, destes tempos.
Quem sabe. Um dia já quis ir para a política. Só que não tenho feitio para engolir sapos.

Tenho esfregado o chão e as paredes, numa tentativa frouxa de limpar as minhas sombras. Foi um ano de carrocel. Altos e baixos. Com uma descida vertiginosa, no fim de outubro de 2018.
Casei por amor, divorciei-me contrariada. Descobri em mim, poderes incríveis e nele, as sombras por revelar.
Volto a Zanzibar.

Já voltei à demasiado tempo. Continuo a pensar que não estou no "right place".

"Você precisa de um lugar quente e húmido!" - dizia-me o pneumologista na sexta-feira. 
Isso sei eu.

Isso sei eu!!!

Tenho saudades. De ver o mar a ir e a vir. Pintado de todas as cores. Verde, azul. A areia fina. Os cheiros da terra, e das pessoas. O cheiro de Stone Town, que reconhecia logo à entrada. Um misto de lixo, plástico queimado e animais pela rua. Pessoas vestidas de todas as cores, ou panos pretos com olhos. Aqui convivem, numa aparente sintonia: mulçumanos e católicos. Em dois extremos de pobreza.
Numa vida ainda tribal, que a nós pode chocar.

É uma viagem pela história ao vivo.
Os Masai, povo que vive nas savanas africanas, ainda vivem em tribo. Mesmo com smartphones e Facebook. São católicos. Vivem em aldeias, onde cozinham a lenha,  na rua.  As mulheres fazem pulseiras de missangas. Sentadas no chão. De trapos azuis e descalças. Sem cabelo. Sorriso franco e sofrido. É para "nhame nhame". E para água.

Lidar com fome e sede, dói muito.
Dói mesmo.

Mas tenho a experiência de me saber salvaguardar. Já sei que não tenho o poder de salvar o mundo. Apesar de às vezes, ainda sonhar com isso.

Acabei de comer um maracujá. Dos nossos. Temos do melhor maracujá do mundo, por onde andei. Mas Zanzibar tem a melhor manga. Doce, deliciosa, consistente, sem fio. Perfeita.

Tenho saudades do risoto de lagosta e de caranguejo. Do melhor nogat de amendoim que já comi. E dos crepes do pequeno almoço. A melancia às 11 da manhã e as pipocas às 17. Mesmo antes de começar a sinfonia de canários para o por do sol.
 12 horas de luz.
3 pores do sol. Dois nasceres fotografados.

(O caraças do meu novo vizinho velho, tem um toque de telemóvel, que me endoidece. Um misto de um pato com uma sirene.)

Tenho fotos com peixes, mas não consegui nenhuma selfish. Vi-me lixada para sair da água, em Mnemba. Na verdade, vi-me fodida. A água estava demasiado fria, com muita corrente e poucos peixes. Quando cheguei ao barco, agradeci a Alá. É importante agradecer ao Deus, onde estamos. ( É só uma piada!)
Na verdade, as sirenes de chamada para a reza, são demasiado penetrantes para que nos esqueçamos delas. 5 vezes ao dia. A primeira antes do nascer do sol. Todos os dias. Por ali não há desculpas.
Só muitas contradições.

É como encontrar masais na discoteca, e só os reconhecer pelas pulseiras. Agarrados a velhas. Agarrados a novas.
A dançar com aquela ginga especial. A alegria do momento.
Amanhã é longe demais - não gosto particularmente da música, mas adapta-se na perfeição.
Waikiki, sextas à noite. 30 minutos para cada lado. Pista na areia. Tambores e danças africanas em varandas. Cuspidores de fogo, só para dar aquele cheiro nauseabundo do querestese. Ou qualquer coisa dessa natureza.
A música não é grande coisa, mas serve para os italianos fazerem as coreografias com os locais.
Uma negra abana-se até eu ficar tonta, e lanço um - i hope you like meat...

Tenho testado o meu humor em inglês. Não é fácil. Sempre foi o meu calcanhar de Aquiles. Não que falasse melhor outra língua, mas o francês era fácil para mim.
Ainda hoje, apesar de não falar, consigo entender.

Nada como viajar para aprendermos. Viajar , viajar dentro, fora. Viajar por dentro de nós.

Estou a fazer uma canja. É domingo e preciso de conforto. A máquina da roupa acabou de lavar.
Como a canja e biscoitos de canela.
Ainda não estendo a roupa.

Fernão de Magalhães, foi morto por canibais, em 1521, em Mactan.
 Quero ir às Filipinas. O Fernão é só uma private joke.

É segunda-feira. Está sol. Já limpei a liteira dos gatos e despejei dois sacos de lixo. A roupa ainda está húmida. Os gatos chateiam a tartaruga, que está no seu passeio matinal. Continua sem nome, apesar de estar enorme e cheia de manias.

Relembra-me Prison Island, reserva de tartarugas gigantes das Seicheles, onde outrora (quase que) foi uma prisão de escravos.

 Quando era miúda e respondia à pergunta parva, de qual o animal que gostaria de ser, era a tartaruga que escolhia. Porque vivem para caraças. Não percebendo eu, ainda na altura, que não é viver muito, mas viver com tudo, que é importante.

Das muitas contradições da minha vida, a mais recente chama-se Coach de Relacionamentos. Eu, o verdadeiro sentido, do azar ao amor, tenho 18 valores no curso de coaching de relacionamentos. Dá-me uma certa piada.

Especialmente, agora que acabei de saber, que o ex já casou. Podia ficar triste, descabelar-me, ou chorar até ficar feia. No entanto, o abalo nem deu para fazer estragos.

Os gatos dormem na mesa da cozinha e fico feliz, com a sua versatilidade. Da mesa, claro. Não sei porque é que eu alérgica a gatos, tenho dois cheios de pêlo.
Deve ser a mesma razão, porque adoro fazer macramé, mesmo ficando horas a tossir.

Tenho uma peça começada, pendurada nas escadas, e um candeeiro para terminar. Mas está muito húmido e não é bom para os meus pulmões. Esta entrada no outono mata-me lentamente.

 E já passou quase um ano.

 Neste momento, parece que passaram muitos mais. Porque colecionei memórias. E histórias. E adicionei pessoas, línguas e países. Fui estudar. Estudei muito.

Dei workshops. Chorei e ri. Chorei até rir, ri até chorar. Dancei como nunca. Apresentei-me às sombras. Descobri o meu Deus - em mim, e aprendi uma oração em hindu. Tenho-a partilhado, porque acredito verdadeiramente, no seu poder.

Tenho um buda no corredor, é uma estrela de David, desenhada nas unhas. A semana passada entrei na Igreja Matriz de Lisboa e rezei. E acendi uma vela nos Jerónimos.
Agradeci.
Bebi vinho nas muralhas do Castelo de S. Jorge. Os copos são inquebráveis, mas a 8€ o copo de vinho, a bebedeira não é grande.

Se lhe acrescentarmos a amêndoa amarga,  a ginga nos Restaurantes, e mais uma garrafa ao jantar, podemos ficar a dançar "toda a noite", no meio da rua.

Memórias.




sábado, 21 de setembro de 2019

Crónicas do nada I


É sábado. Sinto-me como se fosse domingo. Passei a semana a pensar que hoje podia dormir. Não dormi.

O meu gato come que nem um labrador e atacou-me o pão, durante a noite. A tartaruga dá cabeçadas no aquário para pedir comida.

Continuo a sentir-me no domingo, mas sei que é deste tempo assim assim. Não me apetece fazer rigorosamente nada. E é o que vou fazer.

O gato chateia a gata. Tenta comer a comida da tartaruga.

 Missão chateia a Mel de morte. Brinca com tudo e continua a fugir de pessoas.
Estou completamente bored e o melhor é  não ir ao shopping.

Missão chateia a tartaruga. A esta hora já devia de dormir, mas a mim o que este tempo tira, a ele dá-lhe.
E continua frente a frente com a tartaruga, ainda sem nome.

Tenho duas unhas partidas, desde terça feira, e não quero saber.

Continuo a adorar o meu cabelo. Cresceu, está forte, natural, e enquanto nos brancos, vir loiros, vou abster-me de pintar.

Missão dorme e eu chateio-o.

Chove. Muito, pouco. Chove.
Sinto a pressão da sinusite sobre os olhos. E um cansaço que já atribuo aos astros.

Talvez durma. Mas sei que será a tarde toda e quero evitar descontrolar horários. Mas a cama chama-me baixinho, quase num sussurro.

Estive a manhã toda a controlar a que horas acordava a vizinha da frente, até que percebi que dormiu fora. Não tenho qualquer interesse em saber a que horas ela acorda, mas às vezes ocupo a cabeça com coisas inúteis.

Há quem veja televisão ou leia revistas cor de rosa.

Há quem viva e sobreviva.

A cama continua a assobiar-me levemente.

Vivo com poucas culpas e muito menos "ses". Uma grande e alguns ses. Todos do passado.
Permito-me poucos arrependimentos. Resulta para mim. Não será assim para todos.
O vizinho pançudo ouve Tina Turner. Simply the best.

Assim seja!







sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Aos parabéns da Ana

Fazes anos, e apesar de, apenas termos 9 meses de mundo físico, o que te tenho não cabe em palavras.

Salvastes-me. Por duas vezes. Quando me deste colo e a mão. E no momento em que me apercebi, que me tinhas salvo.

 És o meu anjo. Minha guia de espírito, partner nas sombras, companhia nos altos e nos downs.

Tens um dos corações maiores que conheço, mas sufocaste tanto. Queres entender e compreender tanto, dos outros, que te esqueces de te ouvir mais vezes.

Somos uma dupla de três nomes, com lados opostos da mesma moeda. Giremos juntas, num balanço perfeito.

Parabéns Ana!

Amo-te para a vida...

Bruxas??!

 Dia de todos os Santos e o meu gato desaparece misteriosamente??!! {Primeiro uma tartaruga, agora um gato??} Não há bruxas o car****