Ele está constantemente e permanentemente a abrir-me a porta do gabinete
(sem bater) só para me dizer:
- "é a dra. Ana não é? O almoço está quase? O lanche está quase? É a Ana não é? "
E chama-me vezes infinitas por dia, ou batendo-me à porta do gabinete ou quando me encontra pelo caminho.
Hoje, pelo menos, variou no discurso apesar de continuar a chamar-me:
" Ai dra. estou tão mal, vou morrer!"
Vamos todos, amigo! Vamos todos.
Ela, viúva de um capitão, acha que está na messe de oficiais e fica chateada por não lhe prestarem vassalagem. Passa os dias a tentar fugir ou simplesmente a andar atrás de mim. Sempre numa lengalenga de um passado presente. Cheia de queixume, cheia de manias. Gosta de procurar-me e ficar sentada no meu gabinete. De manhã e à tarde. Fica aqui sentada à minha frente lamuriando-se. E eu numa paciência santa, tento deixar de a ouvir, só para que ela possa continuar aqui.
E ele continua a abrir-me a porta...
E eu estou cansada, tão cansada que às vezes tenho vontade de mandar toda a gente para o meu passado!
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